Sanju-san-gendo é o nome popular para Rengeo-en, um templo foi fundado em 1164, na região oriental de Quioto, famoso por ter se iniciado com suas 1001 estátuas de Kannon, a deusa da Misericórdia, e hoje conta com 33.333 delas.
Antes que o templo fosse construído, em uma aldeia próxima, existiu uma enorme árvore de salgueiro. Gerações de crianças da localidade balançaram-se em seus galhos e brincaram de subir no seu tronco. No verão, os transeuntes descansavam à sua sombra e, à noite, encostados em seu tronco, muitos jovens casais trocaram juras de amor eterno. Enfim, o velho salgueiro fazia parte da comunidade e era testemunha centenária da história local.
Certa ocasião, o conselho de aldeões fez uma assembléia e manifestou a intenção de cortar a árvore e construir uma ponte sobre o rio que separava a aldeia em dois lados. Todos estavam de acordo, pois a centenária árvore oferecia um tronco grosso, que daria belos pilares de madeira para a ponte.
Heitaro, um jovem lavrador que tinha uma casa próxima da árvore, contrariou veementemente a decisão do conselho, dizendo que aquela árvore centenária era um símbolo da aldeia e que cortá-la era perder a identidade do local. As pessoas presentes na reunião concordavam com Heitaro, porém achavam que aquele salgueiro tinha o tronco mais grosso de todas as árvores da região, portanto daria ótima estrutura para a ponte.
Criado o impasse, a solução só veio quando Heitaro prometeu que ele sozinho iria à floresta e traria toras suficiente para construir a ponte que a aldeia tanto desejava.
Os aldeões ficaram satisfeitos com a decisão, pois secretamente todos tinham veneração pela velha árvore. Heitaro ficou muito feliz por impedir que cortassem aquele salgueiro que acostumava ver diariamente desde que nasceu naquela casa. Então, já na manhã seguinte, foi para a floresta colher material para construção da ponte.
Alguns dias depois, quando Heitaro voltava de seu trabalho, encontrou, perto do salgueiro, uma linda moça. Como pareceu que a garota estava apreciando a árvore, puxou conversa, entusiasmado.
– Essa árvore é centenária. Veja que belo formato ela tem!
A princípio, a garota mostrou-se tímida, mas, aos poucos, foi se acostumando e, assim, os jovens ficaram falando a respeito da árvore. Descobriram que tinham o mesmo pensamento a respeito do salgueiro.
Naquela noite, Heitaro não conseguiu pegar no sono. Seu pensamento estava totalmente voltado para a bela garota que encontrou junto ao salgueiro. Quem seria ela? Voltaria a vê-la? Sua mente foi bombardeada por perguntas sem respostas. Não havia dúvidas, era amor à primeira vista. No dia seguinte, Heitaro foi cedo para a floresta e trabalhou dobrado para ver se conseguia esquecer da garota. Afinal, era possível que jamais a visse de novo, pois sabia que não era ninguém da aldeia. Mas, ao retornar para casa ao anoitecer, lá estava ela, junto ao tronco do salgueiro! Desta vez, ela estava mais à vontade e convidou Heitaro para descansar encostado no tronco do salgueiro.
Heitaro aceitou o convite de bom grado e conversaram bastante, a ponto de ele declarar seu amor por ela.
Nos dias que se seguiram, Heitaro continuou se encontrando com ela junto ao salgueiro. Ela disse que seu nome era Higo e o lavrador a pediu em casamento. Por fim, ela concordou em casar com ele, desde que o moço nunca perguntasse sobre seu passado, parentes e amigos.
– Eu te amo de todo coração e alma. Não tenho passado, parentes ou amigos. Só posso prometer que serei uma boa e fiel esposa.
Heitaro não cabia em si de felicidade. Levou-a para sua casa e se casaram numa cerimônia simples. Os aldeões comentavam que Heitaro era um sujeito de sorte por ter conseguido uma esposa bela e trabalhadora. Um ano depois, nasceu um filho para aumentar ainda mais a felicidade do casal. Deram o nome de Chiyodo ao menino, que teve toda atenção de seus pais. E, na aldeia, comentavam que Heitaro, Higo e a criança eram, sem dúvida, a família mais feliz de todo o Japão...
No ano em que Chiyodo completou 5 anos, o imperador aposentado Toba decidiu construir um templo dedicado a Kanon, a deusa da Misericórdia, contendo 1001 imagens dessa divindade.
Divulgado o desejo do ex-imperador Toba, as autoridades palacianas ordenaram a coleta de madeiras para construção do grande templo na região. Entre as árvores que seriam cortadas, o grande salgueiro foi incluído com o objetivo de servir como pilar central.
Heitaro, novamente tentou preservar a árvore, oferecendo seu trabalho e outras árvores da redondeza, porém, desta vez, os habitantes da aldeia não concordaram com ele. O povo sentia orgulho pelo fato de que o grande salgueiro de suas aldeia seria utilizado na construção do templo sagrado da deusa Kanon.
– Nossa aldeia é pobre. Não temos dinheiro para contribuir na construção do templo, mas podemos oferecer as maiores toras que serão usada no edifício sagrado - comentavam os habitantes locais.
Dias depois, ainda de madrugada, Heitaro e o filho foram despertados pelo som do machados cortando árvore. Ao acordar assustado, Heitaro viu que sua esposa, Higo, estava sentada perto dele, tremendo de frio, embora estivesse muito calor naquele verão. Em sua alva face, lágrimas escorriam sem parar.
Heitaro colocou um cobertor sobre seus ombros, enquanto ela falava com voz embargada.
– Querido marido, escute bem o que vou dizer agora. Quando nos casamos, eu pedi a você que jamais perguntasse sobre meu passado ou minha família. Pois infelizmente chegou o momento de esclarecer tudo. Eu sou o espírito do grande salgueiro que você salvou há seis anos. Para recompensá-lo pela sua grande bondade, por meio de um encantamento, adquiri forma humana para viver com você e fazê-lo feliz a vida inteira. Infelizmente, este sonho acabou. Estão cortando o grande salgueiro e sinto a dor de cada machadada. Devo retornar agora à árvore, porque sou parte dela. Meu coração está angustiado em saber que estou deixando você e nosso filho querido. Desejo que ambos tenham uma vida longa e próspera.
Enquanto ela falava, sua imagem foi se tornando transparente, até desaparecer diante os olhares lagrimejantes de Heitaro e Chiyodo.
Com o garoto no colo, Heitaro correu em direção do salgueiro pedindo para parassem de cortar aquela árvore, mas era tarde demais.
Quando o sol estava a pino, os marceneiros já haviam desgalhado completamente a árvore e uma multidão se reuniu para puxar o tronco até o rio. Flutuando, a tora seria levada até o local do templo a ser erigido em Quioto. Os trabalhadores amarraram cordas no tronco, usaram alavancas e tentaram mover em direção do rio, porém, estranhamente não conseguiram mover nem um centímetro da tora. Então, chamaram todos os homens da aldeia e, com esforços multiplicados, tentaram mover o tronco do grande salgueiro. Novamente, por mais que os homens aplicassem suas forças, o tronco não saia do lugar.
Heitaro que, junto do filho, assistia cabisbaixo o esforço do pessoal disse, então:
– Meus amigos, esse tronco do velho salgueiro que estão tentando mover contém o espírito da minha esposa. Se vocês permitirem, gostaria que meu filho ajudasse a empurrá-lo, pois assim ele estaria demonstrando respeito a sua mãe e dando seu último adeus. É uma maneira de o garoto mostrar a sua mãe que conseguirá sobreviver após sua partida. Caso contrário, ela jamais conseguirá sair de perto dele.
Muitos dos presentes ainda estavam incrédulos com o que o lavrador dizia, porém, como já haviam tentado de tudo, não nada custava mais uma tentativa, por mais fantasiosa que parecesse.
Então, os homens resolveram fazer um último esforço, puxando o tronco com várias cordas. O pequeno Chiyodo veio por trás do tronco e, com suas pequenas mãos, empurrou a tora, que começou a deslizar e seguiu com facilmente até o rio. Enquanto isso, Heitaro cantava com voz chorosa e lágrimas nos olhos uma canção de amor e despedida.
Fonte:http://www.nippobrasil.com.br/
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terça-feira, 29 de setembro de 2009
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