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quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Amazake, o doce saquê
Existem no Japão muitas lendas de monges e acólitos, cujo objetivo é exemplificar a característica de cada um dos doze signos animais. Esta lenda é uma delas.
Há muitos e muitos anos, um monge extremamente mesquinho e seu aprendiz moravam em um templo da montanha. Naquela época, era comum o povo da região levar comida e bebida ao templo para fazer oferenda ao Buda e também para oferecer as almas de familiares falecidos. Assim que terminava o culto noturno, as oferendas eram retiradas do altar e degustadas pelo monge. Ao aprendiz ele não dava sequer um pedaço de doce e comia gulosamente tudo sozinho.
O monge costumava dizer que Buda comia pouco e vivia meditando de barriga vazia, portanto os aprendizes deveriam fazer a dieta de arroz e chá.
Certa ocasião, uma família de fabricantes de saquê trouxe como oferenda um garrafão de amazake. O monge deliciou-se provando alguns goles e disse ao aprendiz:
– Isto é o amazake, um saquê (vinho de arroz) doce, porém há um detalhe: apesar de doce, é um veneno para as crianças. Se uma criança beber, é morte certa. Portanto, tome cuidado para não beber por engano.
No dia seguinte, o monge saiu para fazer culto em memória de um antigo morador da vila no sopé da montanha. O acólito ficou tomando conta do templo, mas, como estava sozinho, não conseguia deixar de pensar no saquê doce.
“O monge disse que saquê doce é um veneno mortal para crianças, mas deve ter dito isso para eu não beber. Ele quer beber tudo sozinho”, pensou.
Assim, o aprendiz ficou muito curioso e resolveu experimentar o tal amazake. Tirou a bebida do armário, colocou um pouquinho na taça e provou.
– Nossa como é gostosa! Preciso experimentar mais.
Assim, foi tomando gole após gole, sem conseguir parar. Logo o garrafão estava vazio e o aprendiz de monge satisfeito e com a barriga cheia.
– Acho que exagerei. Quando o monge chegar vai me dar uma surra. E agora o que vou fazer?
O garoto pensou, pensou e finalmente teve uma idéia brilhante. No templo, havia um tesouro chamado Kibi no Hotei. Era uma estatueta de Hotei, um dos Sete Deuses da Sorte e da Fortuna, fabricado em porcelana de Imbeyaki. O aprendiz tirou a estatueta da sala e levando ao jardim e atirou contra uma rocha. Hotei quebrou em vários pedaços. Então, o garoto sentou-se no corredor e aguardou a volta do monge.
Não tardou muito, ouviu os passos do monge chegando ao templo:
– Acólito, estou de volta! – disse o monge na porta do templo. Como o aprendiz não veio recebê-lo na porta, como de costume, ele entrou. Vendo o acólito sentado no corredor e chorando, perguntando o que tinha acontecido.
– Quando o senhor saiu, eu estava limpando o salão e, sem querer, quebrei a estatueta do deus Hotei. Fiquei desesperado por quebrar uma relíquia deste templo e concluí que eu não era digno de continuar vivo. Assim, para me matar, eu bebi todo amazake que o senhor disse que matava crianças. Eu bebi, bebi, e ainda não morri. Mas estou aqui angustiado esperando a morte chegar.
Quando o monge ouviu a história, reconheceu que o garoto era inteligente, astuto e muito criativo; um típico nativo do ano do Macaco. Então, disse, conformado com sua derrota:
– Fique tranqüilo, você não vai morrer, porque a estatueta de Hotei morreu em seu lugar.
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