Tamy Itsumo Otome ~[Hiatus]~: Haikai

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Haikai



Haikai (em japonês: 俳句, Haiku ou Haicai?) é uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (isto é, sílabas), e sete caracteres na segunda linha[1]. Em japonês, haiku são tradicionalmente impressos em uma única linha vertical, enquanto haiku em Língua Portuguesa geralmente aparecem em três linhas, em paralelo[2].

O principal haicaísta foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer desse tipo de poesia uma prática espiritual.

Haikai no Brasil

Segundo GOGA (1988), o primeiro autor brasileiro de Haicai foi Afrânio Peixoto, em 1919, através de seu livro Trovas Populares Brasileiras, onde prefaciou suas impressões a respeito do poema japonês:

“Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos... de encanto intraduzível”[3].

Porém quem o popularizou foi Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e título. No esquema proposto por Almeida, o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A 2ª sílaba rima com a 7ª sílaba). A forma de haikai de Guilherme de Almeida ainda tem muitos praticantes no Brasil.

Outra corrente do haikai brasileiro é a tradicionalista, promovida inicialmente por imigrantes ou descendentes de imigrantes japoneses, como H. Masuda Goga e Teruko Oda. Esta corrente define haikai como um poema escrito em linguagem simples, sem rima, estruturado em três versos que somem dezessete sílabas poéticas; aonde cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro. Além disso, o haikai tradicional deve conter sempre uma kigo. Estas são palavras ou frases, utilizadas na poesia japonesa, que têm uma associação com uma estação do ano. (Ex.: "sakura", "flor de cerejeira", é associada à Primavera).

Como fonte nipônica do ainda haiku, em sua forma original, GOGA [3] atribui aos imigrantes japoneses, que começa com a chegada do navio Kasato Maru ao porto de Santos em 18 de junho de 1908. Nele estava Shuhei Uetsuka (1876-1935), um bom poeta de haiku, conhecido como Hyôkotsu. Consta ter sido a sua primeira produção, momentos antes de chegar ao porto de Santos, o seguinte haiku:

A nau imigrante
chegando: vê-se lá do alto
a cascata seca.

É na década de 30 que acontece o intercâmbio e difusão do haiku entre haicaístas japoneses e brasileiros, constituindo assim outro caminho do haikai no Brasil. É nesta década também que aparece a mais antiga coletânea de haikais chamada simplesmente Haikais, de Siqueira Júnior, publicada em 1933. Guilherme de Almeida, no ano anterior, havia publicado Poesia Vária, mas o livro não era exclusivamente de haikais. Fanny Luíza Dupré foi a primeira mulher a publicar um livro de haikais, em fevereiro de 1949, intitulado Pétalas ao Vento – Haicais. As rotas do haikai no Brasil podem ser resumidas cronologicamente da seguinte forma:

* Em 1879, através do livro Da França ao Japão, de Francisco Antônio Almeida.
* Em 1908, através da chegada dos imigrantes japoneses no porto de Santos.
* Em 1919, através do livro Trovas Populares Brasileiras de Afrânio Peixoto.
* Em 1926, através do cultivo e difusão do haiku dentro da colônia por Keiseki e Nenpuku.
* Na década de 30, através do intercâmbio entre haicaístas japoneses e brasileiros, principalmente pelo próprio H. Masuda Goga, conforme já vimos.

Com a ambientação e a difusão do haiku em língua portuguesa, algumas correntes de opinião [3] sobre o mesmo se formaram:

* A corrente dos defensores do conteúdo do haiku;
* A corrente dos que atribuem importância à forma;
* A corrente dos admiradores da importância do kigo.

Os defensores do conteúdo do haiku são aqueles que consideram algumas características do poema peculiares, como a concisão, a condensação, a intuição e a emoção, que estão ligadas ao zen-budismo. Oldegar Vieira é um haicaísta que aderiu a essa corrente.

Os que consideram a forma (teikei) a mais importante seguem a regra das 17 sílabas poéticas (5-7-5). Guilherme de Almeida não só aderiu a essa corrente como criou uma forma peculiar de compor os seus poemas chamados de haikais “guilherminos”. Abaixo, a explicação da forma conforme o gráfico que o próprio Guilherme elaborou:

_______________ X
___ O ______________ O
_______________ X

Além de rimar o primeiro verso com o terceiro e a segunda sílaba com a sétima do segundo verso, Guilherme dava título aos seus haikais. Exemplo (GOGA, 1988, p. 49):

Histórias de algumas vidas

Noite. Um silvo no ar,
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.

Os admiradores da importância do kigo vão respeitar em seus haikais o termo ou palavra que indique a estação do ano. Jorge Fonseca Júnior é um deles. Apesar de haver essas distinções retratadas aqui como correntes, nomes como o de Afrânio Peixoto, Guilherme de Almeida, Waldomiro Siqueira Júnior, Jorge Fonseca Júnior, Wenceslau de Moraes, Oldegar Vieira, Abel Pereira e Fanny Luíza Dupré são referências na história do haikai no Brasil.

Exemplos

no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro
Carlos Seabra


outro outono
no chão entre as folhas
sonhos do verão
Ricardo Silvestrin


primeira folha de outono
no chão começa
o meio do ano.


fim do dia
porta aberta
o sapo espia
Alice Ruiz


pétalas de rosa
a contar-lhe uma história --
sonho de mulher
Chris Herrmann


Ah, mosca de inverno
- questão de dia ou de hora
seu último instante?
Masuda Goga


Florada de ipês!
Meu pai também se alegrava
Em tarde como esta...
Teruko Oda


Dia de Finados
Formigas carregam
Pétalas que caem.
Jorge Lescano


início de outono --
no caminho vão sumindo
as vozes dos amigos.


vento de inverno:
o gato de olho vazado
procura seu dono
Edson Kenji Iura

Para quem viaja ao encontro do sol,
é sempre madrugada
Helena Kolody

Pintou estrelas no muro
e teve o céu ao
alcance das mãos
Helena Kolody

O ipê distraído
pinta de amarelo
a grama do parque
Jorge Fernando dos Santos

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